O Primeiro Pulso da Humanidade
Quando olho para trás, em busca de nossas raízes, sinto a pulsação do primeiro coração humano.
A África, berço de todos nós, nos lembra que as primeiras almas pisaram esta Terra com a pele negra, carregando o mistério da vida em seus olhos profundos.
Como não honrar este início, esta base de tudo o que somos?
A partir do continente africano, o espírito humano se espalhou como as águas de um rio.
Em terras distantes, em meio às montanhas e florestas da Índia, os dravidianos – povos antigos, de pele escura e de olhar atento às forças da natureza – conectavam-se às mesmas fontes sagradas.
Eram povos que, como os africanos, escutavam a voz da Terra e reconheciam a divindade em cada folha e pedra, dançando em celebração à vida.
Eles nos lembram que o ser humano foi feito para viver em harmonia com o todo, em união com o espírito que habita dentro e fora de nós.
A Matriz do Sagrado Feminino
O legado de nossos ancestrais não é apenas história: é um tecido de força e de amor, um manto que nos envolve e protege.
A matrifocalidade dos povos africanos nos ensina que o mundo foi moldado por mãos femininas, sábias e cuidadosas.
Nas aldeias, nas tribos e nos terreiros, o feminino sagrado guiava o caminhar da comunidade, e era nas mãos das mães, das avós e das irmãs que o conhecimento e a espiritualidade feminina floresciam.
O feminino nesses povos não era apenas um aspecto da vida, mas o próprio solo onde todos os passos se apoiavam.
Aquelas mulheres, de pele negra, carregavam em si o poder do sagrado feminino, um poder que era nutrido pela lua e que florescia em comunhão com a natureza.
Em cada erva, em cada palavra de bênção, elas cultivavam a energia do autocuidado e do acolhimento, cuidando da alma e do corpo como parte do grande Todo.
A Espiritualidade Viva e a Conexão com o Divino
Ao cruzar o Atlântico, essas mulheres e homens, guardiões de uma espiritualidade viva, trouxeram para o Brasil a memória dos orixás, dos espíritos da natureza, dos encantados que viviam em cada rio, em cada árvore e montanha.
Eles nos deram a sabedoria de que o divino habita na Terra, e que todos os seres estão interligados.
A espiritualidade que ecoa nos terreiros de candomblé e umbanda é uma oração de resistência, uma chama viva que atravessou os tempos e resiste até hoje.
Na terapia Holística, resgatamos esses ensinamentos ancestrais ao acolher o corpo, a mente e o espírito em comunhão.
O autocuidado, o reequilíbrio através das ervas, dos banhos, dos cânticos – tudo isso está impregnado da sabedoria daqueles que viveram antes de nós. Ao nos reconectar com essas práticas, reconhecemos a força que herdamos de nossos ancestrais.
A Presença Negra no Sagrado Feminino
A mulher negra, Símbolo de força e acolhimento, é uma expressão viva do sagrado feminino.
É ela que carrega a resiliência e a fé que mantêm comunidades unidas, transmitindo o poder do feminino em rituais, em práticas de cura e na sabedoria de que somos, todos, filhos de uma mesma mãe, a Terra.
Em círculos de mulheres, ao resgatar o sagrado feminino, nos lembramos dessas raízes e da importância de reconhecer nossa força interior como um tributo a essas mulheres que nos abriram o caminho.
Ritual de Reconhecimento da Força Interior Ancestral
Que tal um ritual para nos reconectarmos a essa força?
Este é um momento de agradecimento e de comunhão, um convite para celebrar nossa ancestralidade e reconhecer o poder que vive dentro de nós.
Você vai precisar de:
- Uma vela branca
- Uma peça de roupa ou adorno que represente suas raízes ancestrais
- Um lugar tranquilo
Passo a Passo:
- Intenção: Encontre um espaço calmo e seguro onde você possa se concentrar.
Acenda a vela e traga sua atenção para o coração, sentindo a respiração e o ritmo do seu corpo. - Chamando os Ancestrais: Feche os olhos e imagine que está rodeado de seus ancestrais.
Veja cada rosto, sinta a força de cada um, e agradeça a presença de todos. Eles estão com você, como guias silenciosos, transmitindo sabedoria e proteção. - Afirmação de Força: Em voz alta, diga:
“Eu sou a continuidade da força e do amor dos meus ancestrais. Honro sua presença em mim e reconheço a grandeza que carrego em meu ser.” - Silêncio e Gratidão: Permaneça em silêncio por alguns momentos, sentindo a presença dos seus antepassados.
Deixe que a chama da vela aqueça seu coração, preenchendo-o de amor e gratidão.
Conectar-se à sua força ancestral é lembrar-se de que você nunca está sozinho.
Suas raízes são profundas e sustenta você em todos os momentos, como uma árvore que se fortalece a cada nova estação.
Conclusão
Nossa consciência negra nos lembra de onde viemos e o quanto somos poderosos, por tudo o que nossos ancestrais enfrentaram e conquistaram.
Ao celebrarmos o Dia da Consciência Negra, não apenas reconhecemos nossa história, mas também afirmamos nosso direito de existir plenamente, de ocupar nosso espaço e de cuidar de nossas feridas com a ressignificação das forças ancestrais que herdamos.
Neste momento, que possamos nos abrir para o amor, a força e a beleza que recebemos, honrando cada passo dado antes de nós.
Que possamos levar adiante essa herança de sabedoria, acolhendo o mundo com o amor que nos foi legado.
Por Celi Coutinho
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