32 • A Revista Oficial da Terapia Holística
Por exemplo, quando Prometeu
rouba o fogo dos deuses, no mito grego,
está cometendo uma transgressão.
Existe uma metáfora de roubar a luz
divina para “clarear” a vida humana
(ampliação da consciência) – há de se
pagar um preço para isso.
Assim que há a transgressão, o
indivíduo sai de uma zona confortável,
aceita pela coletividade, geralmente,
e embarca numa viagem para algo
incognoscível que pode trazer encontros
e/ou confrontos com aspectos seus
totalmente desconhecidos até então.
Sem colocar as questões em uma
ordem causal, mas com o intuito de
deixar o texto mais compreensível, pode-
se inferir que quando há a transgressão,
algo perde espaço para algo ocupar esse
espaço – a vida busca a “homeostase”,
na grande maioria das vezes, de maneira
não linear. Esse algo que perde espaço
pode ser a oferenda em sacrifício.
A descoberta de que o saber
e o controlar são (muito) parciais
desconstroem a segurança da zona de
conforto – sacrifício – e trazem a reflexão
e, consequentemente, a angústia, pois
as respostas estão além dos ditames da
razão.
Existe um preço (sacrifício) a
ser pago, pois alma não aceita uma
vida medíocre, principalmente quando
ela enxerga a possibilidade de uma
existência única, possibilidade de viver a
sua missão.
No dia-a-dia, constata-se o
sacrifício com a “perda” de emprego,
da estabilidade, de relacionamentos,
da saúde, mudança de cidade, país etc.
Quebra de situações que de alguma
forma corroboravam para uma vida
unilateralizada, sem sentido, sem ligação
com o mito pessoal.
O último quesito, talvez o mais
difícil de ser alcançado, é a redenção,
principalmente pelas limitações do Ego
heroico.
Às vezes, existe a transgressão
momentânea, mas vem em seguida a
tentação de voltar ao trilho (normose),
voltar ao caminho conhecido, sem
conflitos, pueril (útero).
Sucumbimos e negligenciamos a
peregrinação da alma.
Em outras ocasiões, há o sacrifício
compulsório, mas a tentativa da
recuperação é maior do que o sentimento
de abrir mão.
Em última instância, o Ego heroico
não quer “perder” nada.
Não quer trocar com a vida. Almeja
o status quo anterior como forma de se
preservar.
Existe uma dificuldade muito
grande em enxergar que existe uma
instância interna, que nos habita, que
sabe qual o caminho que precisamos
trilhar.
Alguns chamam de inconsciente,
Self, alma, psique etc. Seja qual for
o nome, há uma resistência em se
render a esse desconhecido que tenta,
se esforça e busca resgatar uma vida
com sentido, com significado, a missão,
de estar a serviço de.
Na redenção está implícita a
aceitação de que há a necessidade
imperativa da transgressão e do sacrifício
e todas as suas consequências, pois
existe algo dentro de nós que rege todo
esse processo.
Na vida de Cristo (mito cristão que
atravessa o mundo ocidental) e na vida
de Buda, podemos observar claramente
esses três aspectos – transgressão,
sacrifício e redenção – que emancipam
a consciência e podem trazer sentido à
existência.